domingo, 30 de agosto de 2009

Dança da Chuva

(Paulo Leminski)

senhorita chuva
me concede a honra
desta contradança
e vamos sair
por esses campos
ao som desta chuva
que cai sobre o teclado

parem
eu confesso
sou poeta

cada manhã que nasce
me nasce
uma rosa na face

parem
eu confesso
sou poeta

só meu amor é meu deus

eu sou o seu profeta


um dia
a gente ia ser homero
a obra nada menos que uma ilíada

depois
a barra pesando
dava pra ser aí um rimbaud
um ungaretti um fernando pessoa qualquer
um lórca um éluard um ginsberg

por fim
acabamos o pequeno poeta de província
que sempre fomos
por trás de tantas máscaras
que o tempo tratou como a flores

Sons

Os primeiros que me lembro eram os discos de historinhas com vozes afetadas e canções açucaradas, rimadinhas com aquela voz gentil e meio cômica. Ainda me lembro do trecho de uma delas:

"chegou meus senhores o mestre leão

eu não sou de briga nem de confusão..."

Como eu gostava desses discos... é disco! eu sou do tempo dos saudosos bolachões.Com capas enormes, e aquela chieira gostosinha que antecedia o início da melodia.

Outros sons que me lembro são dos meus pais cantarolando hinos da igreja... esse é um capítulo a parte: e dalhe música adventista! Era para ela, e exclusivamente pra ela, que o estéreo lá de casa cumpria a sua função de existir... então eu ouvia... da boca dos meus pais, no aparelho de som e da minha própria boca é claro... Já que quase todo sábado me postava ao lado de várias outras criancinhas pra cantar no coral.

E a vida seguiu assim, com pouca interferência de outros sons, até meus 12 anos. Foi quando um dia liguei um rádio e, maravilha das maravilhas, girei o botão da sintonia... boooomm!!! Um mundo novo se abriu pra mim, a partir desse momento, esse pequeno instante, as coisas mudaram.

Passei a gravar tudo que gostava muito ou gostava só um pouco... ia gravando, gravando e gravando... pilhas de fitas cassete se formaram em pouco tempo. Minha mãe não gostava nadinha... fazer o quê? O mal, ou melhor dizendo, o bem já estava feito. Eu queria saber, eu queria conhecer. Era o sangue adolescente, inquieto e questionador, que começava a correr pelas veias.

Pra adolescente introvertida que fui a música foi meu porto, minha segurança e identificação. Foi a época do Cazuza, Ira, Legião... Há! O Renato! O Renato sabia das coisas... ele sabia das minhas coisas...

E a partir daí descobri como a música é quase mágica. Nela está contida o poder de tocar e envolver cada pessoa de forma única, seja na vibração provocada pelos instrumentos, seja pelas frases inspiradas, solfejadas pelo cantor. Toda a possibilidade de se transportar, de fechar os olhos e fazer a conexão está lá... basta só realmente querer ouvir...

Foi através da música que ampliei minha percepção de mundo, ela me ensinou sobre beleza, abstração e metáfora.

"e a cidade que tem braços abertos
Num cartão postal
Com os punhos fechados na vida real"

Descobri a ironia... Mas, como eles, os autores sabiam de tudo isso? Há... eu quero saber também! E me enfiei no espiral de informações. Passei de uma adolescente reclusa para uma adolescente reclusa! Mas observadora.

Hoje adulta, a música ainda é uma parte importante de mim, da minha constante formação ela ainda me ensina, inspira e refresca o ânimo. Hoje escuto MPB, os sambinhas delicados, mantras, música folk, reggae - ó! poder da mente não me deixe esquecer nenhum! - o pop rock nacional e alguns artistas gospel (viu mamãe? De certa forma a boa filha a casa torna...) enfim os grupos e cantores que sabem expressar coisas simples, importantes e/ou bonitas... estou numa fase de beleza de tranquilidade e reflexão.

E se você permitir, gostaria de dar uma sugestão:

Hoje, domingo bonito de sol, se inspire, faça a conexão... escolha aquela música que te toca...

é possível, prazeroso e te fará sorrir...

Bom domingo!!!

sábado, 29 de agosto de 2009

Por que ter um Blog?

"a verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo" Maurice Merleau-Ponty

Estava eu navegando pela net, meio entediada olhando a tela e procurando alguma bobagem pra ler. E aí apareceu uma janela: "Faça um blog" a seta do meu mouse já caminhava para o X quando me ocorreu: Por que não? E lá fui eu pela janela...

Seu blog precisa de um nome, me disse a janela. Ora bolas é claro que precisa de um nome! E fiquei num estado contemplativo por uns instantes... tamborilava os dedos na mesa... quando me veio a mente a palavra sinestesia.

Achei apropriado pois nos últimos tempos meu cotidiano tem sido muito pautado, conduzido pelo sentir. Mas como verbalizar o que se sente? Descrever o que se sente é muito difícil! É aquela coisa, você está no consultório e o médico pergunta:
- Como é a sua dor?
- Como é?
- Isso, descreva a sua dor.
Como fazer isso? codificar em palavras algo sentido no corpo?
E a lengalenga continua:
- São fincadas?
- Não médico, não.
- Então lateja?
- É lateja, mas, não é só isso é diferente.
E segue esse diálogo infortúnio, um médico frustrado e o paciente entediado.

É claro que não quero entediar você que está lendo isso. tão pouco quero me frustrar na tentativa de expressar em palavras sensações. E além disso, esses pequenos textos tem motivos muito menos nobres do que um médico em seu ofício de ajudar um paciente.

Aqui serão postadas idéias, gostos e sim sensações do meu cotidiano, da minha vivência focada mas, despretensiosa.

Ainda não sei a razão que me levou a começar um blog. O que sei é que meu tédio evaporou-se. Sempre gostei de escrever e poder fazê-lo de forma leve e livre já vale a experiência. Também não sei por que alguém ia querer ficar lendo isso. Já que é uma coisa pessoal e irrelevante.

Ainda estou tentando entender esse mundão impalpável da internet.

mas se você quiser dar uma olhadinha...

entra, fica a vontade...

Um abraço!